quinta-feira, 24 de março de 2011


Eu e a minha casa...

"Escolhei hoje a quem haveis de servir; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do Rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor" ( Js 24.15)

Talvez devamos fazer um pouco de história. Em Siquém, acontece o último encontro de Josué com o povo de Israel. Haviam atravessado com Moisés por quarenta anos todo o deserto; haviam cruzado o rio Jordão, e agora encontram-se em Siquém, já em Canaã.

Josué havia comandado o povo de Israel na conquista da Terra Prometida a Abraão. Ali temos um lugar altamente recomendável. Afinal, ficava Siquém a poucos quilômetros de Siló, onde fora armada a tenda da congregação nos primeiros dias da conquista. Ali temos o cenário das mais antigas promessas feitas a Abraão. Ali, entre os montes Gerizim e Ebal, as bênçãos e maldições da Lei tinham sido lidas logo após Josué ter entrado na terra.

Siquém é agora o palco do discurso de despedida de Josué, e é possível, mesmo, que o povo estivesse perto do poço de Jacó e do túmulo de José. Aliás, séculos depois, o Josué do Novo Testamento (Josué= Jesus) se sentaria cansado da jornada, e revelaria as riquezas da graça do evangelho à mulher de Samaria (cf. Jo 4).

Voltemos a nossa atenção para aquele palco onde Josué vai fazer seu derradeiro discurso. Ali, ele começou falando de Abraão, dizendo a seu respeito que seus pais tinham sido idólatras, ele mesmo (Abraão) criado na idolatria (Js 24.2.). Existe até uma tradição judaica que afirma ter sido sua família fabricante de ídolos na Caldéia. Portanto, Abraão havia feito uma solene escolha quando renunciou à idolatria; havia deixado toda a sua parentela que também caminhava na idolatria. Toda a história de Israel tinha sido planejada e orientada por Deus, por isso que, ensina a Sua Palavra, o Senhor havia livrado os israelitas do Egito por Moisés e Arão (v. 5). Ele lembra, ainda, como foram sepultados no mar os exércitos egípcios (vv. 6,7); também havia mudado a maldição de Balaão em bênção (vv. 9, 10).

O Senhor fizera tudo isso, e de tudo isso Josué agora dava conta . E vendo o que Deus havia feito por eles, israelitas, necessário era que houvesse muita lealdade, e obediência (v. 14). É nesse ponto do discurso que Josué apresenta ao povo quatro pretendentes à lealdade e à obediência.

Esta palavra é dada, de modo particular, aos pais. Queremos, no entanto, falar de modo mais extenso aos pais e mães, e de modo mais abrangente a toda a igreja sobre essas lealdades divididas. Jesus não falou sobre isso? Não disse que é impossível que alguém sirva a dois senhores (cf. Mt 6.24)? Não podemos servir a Deus e às riquezas, não podemos servir a Javé e a Mamom.

Quais são esses pretendentes à lealdade do povo de Israel, então, e que também podem exigir a nossa lealdade? Diríamos que em primeiro lugar temos os deuses da Mesopotâmia, que eram cultuados pelos antepassados do povo de Israel. Nesse sentido, aqui está Josué apresentando: "Vocês querem cultuar os deuses dos nossos antepassados?"

Em segundo lugar, estão os deuses do Egito também conhecidos dos israelitas. Afinal, ficaram quatrocentos anos naquele país, e conheciam muito bem o que era a religião egípcia.

Há um terceiro tipo de pretendentes: os deuses de Canaã, onde agora estão habitando.

E, por fim, o Senhor Deus, Criador dos céus e da terra, e Senhor de nossa vida. A quem você vai servir, meu irmão querido? Aos deuses que vieram de Portugal com os nossos conquistadores? Aos deuses que vieram da África com a vergonha da escravidão? Aos deuses que aqui já estavam no imaginário dos primitivos habitantes da terra brasileira? Ou ao Deus Vivo, Senhor e Salvador nosso? Onde está sua lealdade?

E Josué fez um grande desafio, e uma magnífica declaração, "Escolhei hoje a quem haveis de servir"; a declaração é "eu e a minha casa, porém serviremos ao Senhor".

Pois, desse desafio e dessa declaração queremos tirar lições.

A LIBERDADE ESPIRITUAL DE CADA UM É RECONHECIDA

Isso ocorre quando Josué diz, "Escolhei hoje a quem haveis de servir". Você não é obrigado a servir ao Senhor; mas tem que fazer uma escolha. Você está numa encruzilhada: há deuses que o chamam, e chame esse deus pelo nome que quiser, vai sempre apelar ao seu coração. Do outro lado, você tem o Senhor, o Deus vivo. A quem você vai servir? Você tem a liberdade de escolher mal, mas tem a obrigação de escolher bem. Portanto, a liberdade espiritual de cada um de nós é reconhecida nesse apelo de Josué.

Assim, depois de trazer os israelitas à terra que manava leite e mel com Seu braço forte, Deus lhes fala através do homem que havia levantado para levá-los a tantas vitórias, e lhes dá absoluta liberdade de escolha. Podem escolher os deuses da Caldéia, os deuses do Egito, os de Canaã, o Deus Único. É como se perguntasse aos filhos de Israel, "Você pode voltar a Ur, vá embora! Quem quiser voltar ao Egito, pode retornar pelo caminho do deserto! Você pode abandonar o povo de Deus, e se misturar com os cananeus! Mas pode, também, servir ao Senhor, diante do Seu altar, diante da Sua graça, diante do Seu trono, e debaixo da mão do Senhor. A quem você deseja servir?"

A escolha do Eterno como nosso Deus é uma questão de liberdade, e não de coação. A Bíblia salienta, com muita propriedade e primazia, o fato de que o ser humano é único, é primeiro no coração de Deus. Diz o Salmo 8 que "pouco abaixo de Deus o fizeste; de glória e de honra o coroaste" (v. 5; cf. vv. 3-8; Gn 1.26-28). Mas acontece que o Senhor tem um lugar muito especial na ordem das coisas criadas para você, meu amigo. Por essa razão, você deve escolher a quem vai servir. Esse é um privilégio que Deus lhe dá; uma responsabilidade que Deus lhe dá, a de se encontrar com Deus, ou sofrer as conseqüências de não querer se encontrar com Ele, porque cada pessoa é responsável por si mesma diante de Deus. Assim o diz a Escritura: "Cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus"(Rm 14.12).

Por causa desse ensinamento bíblico, nós não pregamos, não aceitamos e não acreditamos em salvação por procuração. Você mesmo precisa se apresentar ao Senhor. Há quem queira salvar a outras pessoas por tabela. É aquela pessoa que diz, "Eu não aceito a sua mensagem porque pertenço a uma tradicional família religiosa". Então, esse assunto de tradição mata a salvação no seu coração porque tradição não salva, mas a graça de Deus, sim. É o que a Bíblia ensina.

Há quem pregue o batismo pelos antepassados falecidos. Os mórmons ensinam que você deve fazer um levantamento da sua genealogia: pais, avós, bisavós, trisavós, tetravôs, até onde puder, e vai se batizando por cada um deles. Mas não está na Escritura esse ensino.

Há quem ore, reze, e até pague pela salvação dos seus queridos que estariam num determinado lugar (purgatório) aguardando o juízo final, quando também a Palavra de Deus não ensina haver um lugar de purificação, de purgação dos pecados passados. Nós pregamos, sim, o ensino da Bíblia: a salvação é experiência de cada um razão porque a Bíblia volta a dizer: "escolhei hoje a quem haveis de servir".

Cremos, sim, na competência da alma diante de Deus. Você chega a Deus, e o faz através de Nosso Senhor Jesus Cristo. Pela Bíblia, não aceitamos que qualquer pessoa, governo, ou sistema religioso tenha o direito de ficar entre Deus e você. Só Jesus Cristo, ou como diz a Escritura, "Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus, e os homens, Cristo Jesus, homem" (1Tm 2.5). E porque cremos na competência da pessoa humana diante de Deus, pregamos o evangelho para sua conversão, e pregamos uma igreja regenerada onde o Espírito Santo se faça presente através do Seu poder.

No início do IV Século d.C., era proibido ser cristão; quem se identificasse como cristão era levado à cadeia. Não somente era aprisionado, mas também, levado às feras. No fim do mesmo século, ficou proibido não ser cristão. Antes era proibido sê-lo, mas houve a "conversão"de Constantino, que decretou que quem não fosse "cristão" seria aprisionado. Antes a Igreja era perseguida, depois ela se tornou perseguidora: cresceu em número, mas perdeu em espiritualidade! E daí em diante (que tristeza!) não houve mais diferença entre Igreja e mundo.

Nós cremos, porém, na primazia da pessoa humana. E entendemos que só Deus é o Senhor da nossa consciência! Igreja nenhuma pode se interpor entre nós, o nosso coração, a nossa consciência, a nossa alma e o próprio Espírito de Deus. Então, cada ser humano pode escolher, e deve escolher por si. Homens coagidos a servir são escravos, Deus, porém, deseja filhos; homens coagidos a servir prestam obediência de mãos, mas Deus quer o amor do coração.

REDEDICAÇÃO AO SENHOR

O motivo que a domina é a nossa gratidão pela bondade e pela misericórdia de Deus quando vemos e sentimos como Deus age conosco. A própria liberdade que Deus nos dá nos impele a servi-Lo.

Rededicação é retransformação. Há uma interessante palavra usada em Romanos 12.2. Foi usada pelo apóstolo Paulo quando diz, "E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus." A palavra que está no original e que foi traduzida como "transfomai-vos" é a mesma que usada no relato da transfiguração de Jesus Cristo (cf. Mt 17.1,2). Daí "transformar" ser igual a "transfigurar".

Nós precisamos passar por uma experiência de transfiguração, a mesma que Moisés experimentou diante de Deus em Êxodo 34.29. É isso o que falta! E vemos uma grave responsabilidade para mim mesmo, e para cada crente. É que os homens aí fora precisam ver o meu rosto como o rosto de Moisés, o nosso rosto como o de Moisés transfigurado porque Deus falou comigo, porque Deus falou conosco! E essa experiência só vai acontecer se houver comunhão, como Moisés a teve com Deus. Se não houver comunhão, porém, ninguém vai ver qualquer transformação. E o que estamos dizendo escrevendo é só palavrório e manipulação. Como pregador, tremo quando penso na grave responsabilidade de transformação de meu ser pelo Espírito de Deus.

Rededicação leva ao dinamismo da fé. Fé que é ativa, que irradia bênçãos, que gera energias, que vence aflições; fé que elimina o medo, que dinamiza a vida, que produz gratidão, que estimula o progresso, que traz alegria espiritual, e que conduz à verdadeira vida.

Se a fé há de ser dinâmica, então não há lugar para o desespero e a infelicidade. Aliás, o baiano Ruy Barbosa chegou a dizer, "só é infeliz o povo cuja esperança se perdeu, e cuja fé se petrificou". Por isso, nestes dias em que nossa pátria vive amargurada, aflita, sobressaltada, angustiada, temerosa da semana que vem é nosso dever, como crentes em Jesus Cristo, instilar o otimismo, o bem-estar, a fé, a esperança da vitória pelo Seu Nome, o nome de Jesus em Quem confiamos e a Quem servimos!

O coração humano é sempre tão inclinado a substituir o espiritual pelo material... Não estamos falando de coração alheio; falo do meu e do nosso coração; falo de idolatria como Josué ressaltou ao povo de Israel em Siquém. A tarefa de renunciar a ídolos corre paralela às nossas experiências mais profundas na vida.

Na verdade, a recomendação de João é, "Filhinhos , guardai-vos dos ídolos" (1Jo 5.21). E sabem? Um grande, imenso ídolo é o nosso EU. Não podemos fazer a vontade de Deus quando queremos fazer a nossa própria . Em Mateus 6.24 está dito com todas as letras, "Ninguém pode servir a dois senhores". E para o mundo antigo isso era algo extremamente forte. "Servir" equivalia a "ser escravo", e ninguém pode sê-lo de dois diferentes senhores; "senhor" é idêntico a "amo absoluto, ter direitos irrestritos de vida e de morte". Portanto, a afirmação de Mateus 6.24 diz que "ninguém pode ser escravo de dois amos que exigem cada um para si obediência exclusiva".

Qualquer coisa pode se tornar "senhor"de nossa vida. E qualquer coisa que é honrada e glorificada no lugar de Deus torna-se um ídolo: a profissão, o dinheiro, os prazeres, a segurança. E chega o momento quanto temos que decidir.

Em Mateus 7.13,14 há uma alegoria usada por Jesus, os dois caminhos: "Entrai pela porta estreita: porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela: e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida e poucos são os que a encontram".

Chegamos a uma encruzilhada: ir para a direita ou para a esquerda? Já pensou que, dependendo da sua decisão, a vida amanhã será diferente? Nossa única esperança é ser forte em nossa escolha de Deus.

>Walter Santos Baptista, Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA (O autor é Terapeuta de Família e de Casal)
E-Mail: wsbaptista@terra.com.br

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